As tias do pragal são uma espécie, outrora rara, agora em expansão, que frequentam a nossa loja. Moram na zona da estação de comboio do Pragal, naqueles prédios rosa que lhes foram deixados por herança de um tio afastado , vulgo Câmara Municipal/Bairro Social, e como são quase todas divorciadas moram lá com os rebentos de uma longa duração (2 anos, mas isto de levar porrada dos maridos construtores que chegam bêbados a casa depois de uma noite num bar de alterne mensura décadas de vida de uma dona de casa dedicada/desesperada).Elas são as nossas clientes “habitués”, que vão ao centro comercial todo o santo dia e compram muitos acessórios e bijutaria. Tudo o que seja écharpe tigresse ou ponchos com pompons é ouro sobre azul. Nada de vestuário, é muito caro e isso há na praça e na loja dos chineses.
Esta espécie tem traços que as distinguem facilmente das demais frequentadoras da nossa loja. Uma delas é o seu bronze exagerado, conhecido pelos dermatologistas como reacção alérgica da pele a auto bronzeadores baratos provenientes do Bangladesh. Sem excepção à regra, são todas loiras. Loiro platinado ou loiro noja, para contrastar com o seu bronze “natural” e apesar de rondarem a casa dos 30 aparentam serem 15 anos mais velhas. As tias do Pragal também abusam na maquilhagem: high liners, olhos “borrados” de preto ou cores berrantes, bases escuras para acentuar o seu bronze que ganharam nas “Seicheles”, e os lábios bem pintados com cores vivas. As unhas têm de ser de gel, com cores berrantes, feitas no anexo da brasileira que mora na porta ao lado, que, por sua vez, trabalha como manicura num cabeleireiro qualquer com o nome Beta Cabeleireiros. Por favor, tomar atenção ao S da palavra Cabeleireiros. Não pode ser Cabeleireiro, tem de ser Cabeleireiros. Enfim parecem uns verdadeiros, Pinguins Saltadores da Rocha com tanta cor.
Para uma fácil identificação entre elas, usam uma linguagem única e só por elas compreendia. Para isso, tem que se ser a mais espalhafatosa possível. Falar aos altos berros gesticulando-se todas. Não há "tempo" para ir ao ginásio então assim lá ginasticam as peles pendentes no tricep. Tia do Pragal que se preze tem sempre que usar sempre a palavra amori quando se fala com um funcionário da loja, usar a expressão demodé tá a ver e acha normal, meter-se sempre com um funcionário masculino quando este o atender na caixa (piscar-lhe o olho, contar umas piadolas, mostrar o decote, ralhar com as filhas, ou dizer que massada que isto de andar às compras tem muito que se lhe diga). Ao falarem tem de abrir muito a pouca para acentuarem “correctamente” as palavras. Quando acompanhadas com os seus trambolhos (vulgo Cátia Vanessa, Carla Sofia, Fábio, Ruben, etc.), conseguem atingir o auge da parvolhês. Isso porque as crianças são obrigadas, por comodidade dos pais, a permanecerem até às 8 da noite no colégio/liceu (vulgo centro comunitário/centro de apoio à criança/centro de apoio às mães solteiras/escola básica e até reformatório) e depois quando se vêm em ambientes menos hostis têm sempre de dar o ar da sua graça. Têm a mania de se armarem em autónomas e experimentarem tudo o que lhes aparece à frente, mexer nas manequins/montra, deixarem a roupa no chão, brincar a apanhada e ao arremesso do objecto mais pesado que encontrarem que consiga matar alguém caso lhe acerte com aquilo na cabeça. Quando se fartam (passado 3 horas), as crianças começam a berrar com as mães para se irem embora, vulgo mãe vamos para casa, já! Senão volto pá casa do pai e perdes a pensão e quero ver como é k te sustentas sem trabalhar. Por sua vez, a mãe retorque com um ai pá não sei o que se passa com esta criança! nunca foi assim de ser respondona e se portar assim. Deve ser do colégio ou então está traumatizada por ter os pais divorciados, piscando-me o olho. Já na caixa, na altura de pagar também são elas, as crianças, que o fazem. Lá vão buscar o cartão da mãe e digitar o código pin, todas contentes. É que têm de aprender logo de pequenas a lidar com estas situações, não vão elas emprenhar aos 14 como a mãe e ter de ficar em casa a cuidar da criança pois quem sai aos seus não degenera.
As tias do Pragal adoram esquecer-se de comprar algo, e quando finalizo a venda, lembram-se que falta qualquer coisa e vêm com a história do costume: oh! Esqueci-me das calças, só um momentinho que eu vou buscar!
É claro que depois se acumula uma fila enorme porque pelo caminho ainda têm de ver outros itens! Eu tenho cá para mim, que elas fazem de propósito só para mostrarem aos restantes clientes quem é que manda ali no estaminé.
Quando saiem da loja, têm de falar ainda mais alto e a fazer muito barulho com os sacos, para as restantes pessoas as verem como pessoas abonadas e ao mesmo tempo esta espécie sente-se realizada de terem toda a gente a olhar para elas. É que para elas, as pessoas olham-nas com inveja, por serem também belas e fashions ou porque as idolatram e adoravam ser como elas, e não por indignação.
A sua carteira também sofre ligeiras transformações. No início do mês está sempre recheada com notas, carteira de cheques e cartões Multibanco. A meio do mês só lá se encontra a carteira de cheques e cartão Multibanco. No final do mês é o cartão de crédito que reina, nem que seja para pagar um pack de meias a 6.90€. O que não pode por ficar por saciar é a sua sede de consumismo. Quanto à carteira de cheques, é uma questão de status quo, segundo elas. É que cheques, não sei porque carga de água, para estas madames, é sinal de poder de compra, ou de calotice. Elas bem tentam pagar com cheque, mas na nossa loja não aceitamos cheques. Fartos de caloteiras andamos nós.
A indumentária em geral é outro assunto que dá pano para mangas. As calças de gangas têm de ter o maior número de bolso possível, brilhantes ou lantejoulas a contornar os bolsos. Na parte de cima, é um vale tudo. Polares, t-shirts douradas, camisas tigresse com écharpes, peças adequadas para miúdas de 17 anos, enfim... Muito brinco cheio de penduricalhos, muitos chapéus e boinas à J.Lo. e o pior de tudo: o calçado. Este varia de botas bicudas, de salto agulha, a Ugg da loja dos chineses, ténis Naike da Seaside, etc.
Para além dos centros comercias, este ser também se pavoneia em tudo o que é loja dos chineses, mini-preço e Lidl (undercover). Todo o santo sábado é vê-las na feira de Corroios, para saberem a próxima imitação ou roupa contrafeita, undercover também.
Aonde nunca se encontra uma Tia do Pragal: vernissages, inaugurações, estreias, revistas cor de rosa, restaurantes (Mc Donalds e o Pateo não contam), Sintra e Cascais, Discotecas (sem ser o Kaxaça e o HK)! Jamais Salomé!
Espero que tenham ficado esclarecidos sobre este case study mas é que esta espécie tomou tamanha dimensão que acho que de deve debater tal assunto.
Só mais uma coisa.! Posso ter exagerado um pouco no que toca ao seu habitat. Não quer dizer que sejam mesmo do Pragal. Mas tias da Costa e da Verdizela, que é pelo o que se tentam passar, é que não são. No máximo dos máximos, pelo seu comportamento são tias assim, sei lá, da Cova da Piedade ou do Feijó!
5 comentários:
Encontrei-te por acaso e cá estou só para dizer que estou a adorar o teu blog! Divertem-me muito as tuas "descrições", excelente sentido de humor! Que continue por muito tempo, serei leitora assídua.
E não é que essa especie está em desenvolvimento?!? Já vi um ou outro exemplar por estes lados (estou bem longe dos locais que referiste), mas, felizmente para mim, ainda são em pequeno número!!! lol
Descrição genial!
Ganhaste uma leitora assídua!
Vou favoritar o teu blog! ;)
Muito bom! Aturei-as bastante até há um ano. Felizmente, troca-se de emprego, troca-se de 'fauna'. Mas a descrição está genial, é mesmo assim, sem tirar nem pôr. Só ficou por falar acerca do seu Yorkshire de colo que está sempre a apanhar tareia do Pitbull do filho.
as tias do pragal?
oiça la mas voce n tem mais nada para fazer do que tar a falar mal da vida dos outros ja olhou bem pra si e pior que todas as mulheres do pagal juntas
ass: moradora do pragal
otariasssssssssss
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